sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Fúria

“...Eu quero o seu sangue, eu quero o seu medo...”- Level Nine

Olho o individuo que chega gritando, me julgando pelo o que estava vendo, sente-se na razão de se aproximar para me empurrar, sou rápido e minha fúria me transforma em um gigante, de fato, ele não esperava que um cara franzino de óculos pretos e com aspecto intelectual pudesse ser tão violento. E sou. Não meço tamanho, cor, peso, nada, duas faixas pretas fecham-se sobre os meus olhos, nada vejo senão elas, minha mão já passa por de trás da sua nuca e jogo sua cabeça contra um poste próximo, o concreto frio revestido com pedaços de metal polido estragam ainda mais a feiúra do rosto do meu adversário, o sangue joga do seu nariz, não me satisfaço apenas com isso e não hesito em trocar uns socos rápidos. Ele logo desiste da dança e corre, procura por policiais em um posto de combustível próximo.

A razão me volta, me sinto perdido, sento alguns instantes na calçada, não sei exatamente quando tempo se passou. O sangue quente e o suor frio que escorrem da minha testa, me fazem ser um mostro. O pior que eu até tinha gostado da cena, gosto quando me subestimam. Tudo isso deu-se por conta de um ônibus perdido e um medo de não conseguir chegar a tempo de fazer uma prova de política na faculdade. O motorista do ônibus não parou, fez menção de estar atrasado, como se eu tivesse algo a ver com o seu atraso, então, falo mal, bravejo, e golpeio violentamente o ponto do ônibus, feito de madeira e pintado de azul e branco, com o nome da empresa já quase apagado, o individuo que comprou a briga do ponto, arrependeu-se por não me ter-me deixado estourar aquele pedaço de madeira tosca. Acabou pagando caro. Pagou com sangue.

Pego a primeira condução que passa, vou pra longe do cenário do crime. Depois, ao chegar em casa, me olho no espelho e peço perdão por ter perdido para o stress, para a rotina.

Era só fúria.
E o pior é que gostei disso.

Imagem: Google